Por: Camila Giamelaro
Em outubro, a cidade de Valinhos, no interior de São Paulo, estará em festa. O Laroc, primeiro sunset club do Brasil, completa seu primeiro ano de vida. E que ano, diga-se de passagem. Foram 15 aberturas com gigantes da música eletrônica atual no comando da pista que recebe até 6 mil pessoas em cada data. Começou com o pé direito, fazendo sua grande inauguração com Nicky Romero e depois trouxe gigantes como EDX, Robin Schulz, Hardwell. Axwell, Phonique, Deniz Koyu, Kolombo, Erick Morillo e Lee Foss. No time brasileiro, pudemos conferir as apresentações de Felguk, Alok e FTampa como headliners. E ainda teremos mais duas aberturas nos dias 03 de setembro com Lost Frequencies e 17 com Watermät, antes da grande comemoração de 1 ano.
O passado, presente e futuro desse empreendimento de sucesso está nas mãos de Mário Albuquerque, sócio-diretor da Laroc, que conta com uma experiência imcomparável no mercado da música eletrônica. Mário já passou pelo Anzu club, agência Lovelife, e foi sócio e diretor de produção de grandes eventos, como David Guetta no Brasil, Tiesto Club Life e A State of Trance 600. Hoje, nas agências SFX e Plus Talent, cuida de grandes projetos como Tomorrowland Brasil, Armin Only e I Am Hardwell.
Conversamos com ele pra saber como sua carreira influenciou no conceito do Laroc.
HOUSE MAG – Como surgiu a ideia de criar o Laroc e como a sua trajetória influenciou na concepção do projeto do club?
MARIO ALBUQUERQUE – Primeiramente obrigado a House Mag pela oportunidade de contar um pouco de nossa história. Sem dúvida minha trajetória profissional influencia e muito não só na concepção mas na oportunidade de conhecer pessoas, fornecedores e aumentar a rede de relacionamento que é um diferencial neste negócio. Foi através disso que conheci o Silvio Soldera, que é meu sócio no projeto. Ele é proprietário de uma empresa de infraestrutura que atende grandes eventos como Rock in Rio, Lollapalooza, Tomorrowland e em 2014 fizemos a primeira edição do Armin Only no Sambódromo do Anhembi em uma Tenda, algo inédito. Ali começaram as conversas embrionárias do projeto, pois a mesma tenda em questão é a base do nosso projeto. O Silvio foi o cara que encontrou o local, fez o primeiro esboço e foi o Idealizador do Laroc.
Voltando a questão da trajetória, acredito que isso ajudará a encurtar os caminhos para atingir nossas metas, que é ser um club de expressão mundial.
HM – Durante a sua carreira você já teve passagens por grandes clubs e hoje, além de estar a frente do Laroc, você também comanda grandes eventos, como o Tomorrowland. De onde você tirou o maior aprendizado pra chegar até aqui?
MA – Cada projeto é um novo aprendizado. Claro que alguns são mais marcantes que outros, mas quando olho pra trás, vejo que cada um teve sua parcela de contribuição. No anzuclub eu passei por várias areas como promoção/marketing, operação, administrativo e direção artística. Isso me ajudou a ter uma visao mais 360 do negócio e não somente focada em uma área. Trabalhei muito nas ‘raves’ nos anos 2000 que me deram um background de produção e principalmente em saber reagir em situações adversas. Passei por cada situação que se contar muitos não acreditam. Com isso, você vai ficando mais calejado. Antes do Tomorrowland, tiveram vários outros projetos que eram liderados por equipes internacionais que também me deram um pouco da noção do que seria um projeto compartilhado com gringos. Quando apareceu a oportunidade do Tomorrowland, sem dúvida o maior desafio da minha vida, me sentia capaz de enfrentar por tudo que havia vivido e por ser um objetivo que eu tinha.
Como citei, nos anos 2000 eu já tinha o Mysteryland como uma grande referência… Primeira vez que fui para Bélgica para o Tomorrowland em 2011 poucas pessoas sabiam o que era este festival aqui no Brasil. O Laroc é consequência de trabalhar com o que gosta com amor e dedicação. Sinto que ainda temos muito a conquistar como club. É apenas o começo. Não me vejo trabalhando em outra área que não seja entretenimento e principalmente no mercado de música electronica. Seja com club, festival e/ou outros projetos que tenham a mesma sinergia.
HM – Porque a cidade de Valinhos foi a grande escolhida pra abrigar o projeto da Laroc? O que foi levado em consideração?
MA – O ponto de partida era que fosse algo fora de uma zona urbana. As pesquisas foram iniciadas em Campinas, e Valinhos é uma cidade vizinha. Estamos há 10 minutos do Shopping Iguatemi de Campinas por exemplo. Isso não havia sido um pré-requisito, mas hoje estamos muito satisfeitos, pois em uma cidade menor conseguimos ter um contato mais próximo e isso beneficia a todos. Queremos que a cidade tenha orgulho do nosso projeto e também nos sentimos na obrigação de contribuir com o desenvolvimento da região.
HM – O Laroc abre muito esporadicamente. Qual o motivo das datas de funcionamento tão espaçadas?
MA – Pode parecer desperdício, mas abrir e sofrer prejuízo é pior. Justamente pelo tamanho do negócio, nosso ponto de equilíbrio é elevado. Às vezes é melhor ter uma abertura com casa cheia do que duas. O custo fixo mensal é o mesmo, mas o operacional, produção e artístico dobra. Além do fato de que é legal a expectativa que se cria para a próxima abertura. Se você quer saber a minha opinião, o cenário perfeito seriam duas aberturas por mês, vamos ver se com o tempo nós conseguimos implantar isso. Muita gente não conhece o Laroc, e uma coisa é fato, quem conhece volta! Com isso aumentamos nossa base de clientes, então há expectativa de um crescimento exponencial que sustente esta ideia.
HM – Em se tratando de line up, hoje o Laroc não leva apenas grandes nomes do EDM, mas também de outros estilos, como Kolombo, Lee Foss, Junior C, entre outros. Essa é uma tendência que o club vai seguir, conforme a onda do mercado?
MA – A última coisa que queremos é ser rotulados. Somos um club de música eletrônica que tem por obrigação disseminar a cultura. Por isso não podemos nos limitar a vertente A ou B. O mercado é cíclico, sabemos que os estilos vem e vão na mesma velocidade e o club tem que acompanhar isso. Faz parte da curadoria artística ‘educar’ o público sem julgamentos. Se você gosta de mainstream, tem uma noite para isso, se você é do underground também pode frequentar o club e viver a experiência Laroc. Talvez este seja um dos problemas do nosso mercado. Muitos produtores não tem convicção sobre o que estão fazendo e simplesmente surfam a onda do momento. A ‘onda’ que você cita é passageira, mas a essência se mantem.
HM – Hoje o que mais vemos são novos talentos tentando um lugar ao sol. Como vocês vêem as revelações musicais do Brasil e como colaboram para fomentar esses nomes fresquinhos que chegam no mercado?
MA – A vantage do Laroc é que temos uma duração maior do que os nightclubs. Temos 11 horas de música, o que nos da o direito de escalar 7 artistas por abertura. Os dois primeiros horários estão sendo utilizados para isso. Novos talentos, talentos regionais e experimentações.
HM – O que foi levado em consideração no momento de escalar os residentes da casa?
MA – A casa começou com dois residentes; Renato Naya e The Juns. O Naya é o verdadeiro residente, aquele artista coringa que pode ser colocado em qualquer horário que vai saber se virar. Além disso, ele é da região e tem um papel extremamente importante na comunicação com o público local. O The Juns é minha aposta. Trabalho como manager deles. Somos amigos de longa data e desde o início estamos juntos. Eles têm um feeling de pista muito apurado e já pegaram fogueiras como tocar após um headliner, assim como a missão de fazer um warm up para outro headliner e em todas as situações se saíram muito bem.
Com o inicio das noites ‘undergrounds’ me senti obrigado a ter uma outra dupla de residentes que preenchesse o mesmo perfil. O Silvio Soul tem o mesmo papel do Naya, ser da região e atuar como coringa. O Junior C é um talento, sou até suspeito para falar pois somos muito amigos, mas assim como o The Juns, já entende a pista do club e sabe se virar em qualquer situação.
Ou seja, dos 4 fixos, em cada abertura sempre teremos dois residentes – aquelas que cabem mais com o conteúdo musical.
Além deles, temos um residente de ‘honra’ que é o Marcelo Cic. Outro artista excepcional do qual fazemos questão de recebeêlo no mínimo a cada dois meses.