Diário de bordo! Confira como foi a passagem de Barbara Boeing no pocket festival do Dekmantel

Por Georgia Kirilov

Foto de abertura: divulgação

Barbara Benghi Boeing é engenheira civil e responsável por um dos desenvolvimentos mais sustentáveis e ambiciosos da Curitiba atual. Ela também está na sua segunda tour pela Europa e tocou no Lente Kabinet, o pocket festival do Dekmantel, que está na sua oitava edição em Amsterdam.

Boeing dividiu o line up com grandes nomes como Peggy Gou, Mall Grab, Nu Guinea e Esa. Na recente adição de mais um dia ao festival, nomes como Lena Willikens, Antal, Sadar Bahar e Todd Terje embalaram os corpos na chuva. Além dela, representando o Brasil, Millos Kaiser, do duo Selvagem, também tocou.

Acompanhamos a DJ, engenheira e pesquisadora musical desde sua chegada em Amsterdam, até o momento de assumir a cabine da Igrejinha do Lente Kabinet – um palco pequeno com uma estrutura imponente de linhas retas emanando a herança modernista de movimentos como o De Stjil.

O grande dia começou com somente quatro horas de sono, pois na noite anterior Boeing estava tocando em Graz na Áustria. Chegou em Amsterdam no meio da tarde e adentrou a van à caminho do festival entre Peggy Gou e Mall Grab – um primeiro gosto do que estava por vir para seu primeiro set em um festival internacional de grande porte. A preparação perfeita para o Nuits Sonores, em Lyon, que se aproxima e traz junto um Boiler Room para celebrar, em cada vez maior escala, a dedicação de Boeing para com a música. Ela que toca há mais de 10 anos, que já foi baterista de uma banda e fazia coleção de CDs antes de fazer coleção de discos, agora comanda algumas das cabines mais disputadas do mundo.

Já na chegada ao festival alguns detalhes visuais representam a aura dos corpos que ali transitam. O Lente Kabinet é um deleite para os olhos com um público antenado tanto em música, quanto em moda e arte. As instalações que pontuaram os espaços entre os palcos, também eram peça chave na formatação de uma experiência excitante e elegante – uma combinação cada vez mais rara que os holandeses parecem dominar. Antes e depois de tocar, Boeing checou alguns sets e menciona Nu Guinea, Beautiful Swimmers e Peggy Gou como seus highlights do sábado. A primeira menção, uma banda italiana que vem para o Brasil em junho, é um som íntimo para Boeing que costuma tocar algumas de suas faixas em seus sets. Já Beautiful Swimmers impressionou com seu som mais leve e mesmo assim dançante – a sensibilidade da plateia, acostumada com referências musicais mais abrangentes, ali latente. Por fim Peggy Gou “mostrando porque é uma das melhores do mundo seleção e mixagem” em citação direta da DJ curitibana. 

Às 21h chegou o tão esperando momento de assumir o controle da Igrejinha – sem dúvidas o palco mais instigante do festival – que até então estava ao som de um reggae finíssimo. O caminho para o palco era repleto de natureza com fumaça permeando por entre as folhas, quem por ali andava já sentia que algo especial esperava do outro lado. Boeing é brasileira e seus grandes amigos que vieram de diversas partes do Brasil e do mundo, como a que vos fala, fizeram questão que isso não fosse esquecido. Rolou performance de Vogue da sua parceira enquanto ela tocava, gritos que podiam ser ouvidos do outro palco e um ambiente que não parava de encher e brilhar à medida que o sol se punha atrás da Igrejinha e criava recortes de luz por entre as linhas da estrutura. A reciprocidade do público com todas as experimentações musicais do set foi arrepiante. A nossa bagunça brasileira na linha de frente deixou o clima folgado para todos os gringos que chegavam e se sentiam em paz para dar risada conosco (e um pouco de nós, sem dúvidas) e dançar sem parar. Permeando ritmos dos mais diversos, Boeing desafiou estruturas e, diferente dos prédios que levanta, ousou deixar o perfeccionismo virginiano (com ascendente em libra) de lado, com transições audaciosas e criativas. No fim, o set de uma hora e meia mais pareceu 20 minutos e quando ela o terminou, com Teto Preto diga-se de passagem, o desapontamento do público era palpável. 

Tendo acompanhado diversos dias da vida de BBB, peço licença para um momento de reconhecimento. É de uma magnitude sem tamanho tê-la conhecido durante uma entrevista quatro anos atrás e agora acompanhar um dos dias mais especiais de sua carreira musical. Carreira essa que começou como hobby de uma engenheira e agora está na disputa dos horários sempre limitados da virginiana fã de planilhas. Temos uma representante ferrenha do brilhantismo do Sul Global e suas fusões culturais oriundas da diáspora de tantas comunidades que ali se encontraram com nossos povos originários. Barbara Benghi Boeing surpreende a todos na pista com seu gingado e sutileza, representados com seleções minuciosas fruto de uma pesquisa profunda e sagaz. Ficou com vontade de dançar também? Então curta o primeiro Boiler Room da DJ que rolou no final de maio, em Lyon!

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