Por Décio Freitas e Dudu Palandre aka Anhanguera
Foto de abertura: divulgação
Se tem uma coisa que ainda pode ser considerada subestimada na cena clubber brasileira é o lounge. Obviamente, existem grandes DJs de warm up, ou mesmo artistas excelentes em abrir uma pista e ir aquecendo conforme ela vai enchendo; mas, ainda assim, esta é uma arte que não está tão em evidência quanto deveria. Afinal, saber dosar e manter um ritmo mais cadenciado é uma arte tão ou mais difícil que fazer uma noite ferver em um peak time.
Acontece que, neste momento peculiar, em que aglomerações estão proibidas e clubs fechados, os especialistas em sets mais calminhos e elegantes podem vir a ser mais necessários do que nunca por aqui — afinal, em muitas cidades, os bares podem ficar abertos, com restrições. E sem a possibilidade de grandes pistas de dança, aquele climinha gostoso de lounge pode ser muitíssimo bem aproveitado, se conduzido pelas pessoas certas.
Foi com essa perspectiva em mente que pensamos em trazer neste mês, aqui na nossa coluna, um especial voltado à balearic beat — termo que pode ser compreendido como uma linha músicos com BPM mais baixo (normalmente abaixo de 119 BPM), referências ecléticas, cadência mais lenta e pegada suave, mas ainda assim, dançante.
O nome do gênero remete à Ibiza, a mais famosa das Ilhas Baleares na Espanha, porque foi ali, entre os anos 80 e 90, que ele foi criado e popularizado. O argentino DJ Alfredo, que tocava como DJ residente no club Amnesia, é creditado como o pai da balearic beat, mas o estilo sempre casou bem com bares e lounges, e por isso o seu maior ícone é o Café del Mar, também localizado em Ibiza, que contou com o pioneirismo do DJ espanhol José Padilha, residente do espaço desde 1991.
Há 40 anos, as discotecagens famosas do local rendem incontáveis coletâneas, como as lançadas pela gravadora Café del Mar Music e, mais recentemente, playlists e lives, com convidados ilustres. Um dos maiores nomes associados à cultura balearic, Padilha foi o responsável pela curadoria dos primeiros seis volumes da “Café del Mar” (entre 1993 e 1999), e embora não trabalhasse mais no bar, permaneceu ativo como DJ até o fim de sua vida, em outubro, quando perdeu a batalha contra o câncer aos 64 anos.
Jose Padilla – Foto: divulgação
Mas classificar exatamente o que é a balearic beat pode ser complicado. Como acontece em muitos casos, o seu nome acabou sendo usado para designar diferentes categorias que conversam entre si, e sua interpretação é variável. Pode tanto ser usado para descrever um tipo de som mais específico, quanto, de forma mais abrangente e genérica, se referir simplesmente à música chill out/downbeat. Enquanto globalmente entendemos a balearic beat como um gênero musical oriundo de Ibiza, os seus pioneiros a definem como uma espécie de “não gênero” experimental, cujos sets podem comportar vertentes das mais variadas — de música ambiente a beats étnicos, muitas vezes não se prendendo ao formato 4×4. A principal característica desses sets é ter sons mais leves que, se não precisam ser necessariamente super cadenciados, dificilmente terão batidas, synths ou basslines mais agressivas.
Foi isso que levamos em conta para prepararmos uma pequena seleção com músicas que compreendemos que podem se encaixar nesse rótulo tão peculiar e, ao mesmo tempo, tão abrangente. Tem material de expoentes da música eletrônica, como Fatboy Slim, Moby e Frankie Knuckles, e a mais do que clássica “Pacific State”, do 808 State. Esperamos que curtam e que os DJs se inspirem a olhar para essa cultura com mais carinho!